segunda-feira, 11 de março de 2013

A Insignia da Fonoaudiologia


Insígnia da Fonoaudiologia


INSÍGNIA: À BUSCA DA IDENTIDADE

O CREFONO1 resgatou a história da insígnia de nossa profissão, partindo de dados levantados junto aos profissionais, documentos, convites e anéis de formatura. Um documentário rico e interessante que traz a magia da mitologia para a representação profissional, nos reportando à gloria e orgulho de ser fonoaudiólogo.

A INSÍGNIA
A insígnia da Fonoaudiologia foi criada entre as décadas de 1940 e 1950. Embora não tenham sido encontrados registros oficiais, documentos que compõem a série histórica da Fonoaudiologia a catalogam, desde a época de sua criação até os dias de hoje. A insígnia é representada pelo bastão e a serpente, pela pena e pelos ramos de café.

O BASTÃO E A SERPENTE
O bastão e a serpente, símbolos de diversas profissões de saúde, foram inspirados em Asclépio, a quem foi dado o poder da cura. Asclépio era filho de Apolo e Coronis tornando-se discípulo de Quiron, que lhe ensinou sobre a cura através das plantas, banhos, terapias, jogos, músicas e dramatizações. Após ter sido fulminado com um raio por Zeus, por ter ousado ressuscitar os mortos, Asclépio passou a ser cultuado, por gregos e romanos como o “deus da cura”. Em várias esculturas gregas e romanas e em descrições de textos clássicos, Asclépio é sempre representado segurando um bastão com uma serpente em volta.
A serpente, em amarelo, representa a prudência, a vigilância, a sabedoria, a vitalidade, o poder de regeneração e preservação da saúde. O bastão, em marrom, simboliza os segredos da vida terrena, o auxílio e suporte da assistência à saúde e o poder da ressurreição. A origem vegetal do bastão representa as forças da natureza e as virtudes curativas das plantas. Hoje, o bastão e a serpente têm sido utilizados por muitas profissões de saúde como forma de simbolizar o desejo pela manutenção, restabelecimento da saúde e da cura para os problemas de saúde física e mental.

A PENA
A pena, em cor branco rajado, representa o meio de comunicação humana mais primitivo e importante na história da civilização, desde os primórdios até a Idade Média.
A comunicação escrita foi criada por Toth, venerado e transformado em deus criador pelos antigos egípcios, desde que trouxera o uso da escrita hieroglífica, da alquimia, da matemática, da medicina, da arquitetura, da magia, enfim, a base de todas as ciências que levaram os egípcios a um altíssimo nível de conhecimento. Toth era o deus da Lua, da sabedoria, o medidor do tempo, e o inventor do sistema de escrita, criador dos hieróglifos e do sistema de numeração. Segundo Platão, Toth, também chamado por muitos de Hermes, foi o pai das letras, da geometria, revelador do uso dos números e da astronomia. Deixou mais de dois mil livros escritos, quase todos destruídos quando do incêndio da Biblioteca de Alexandria. Segundo a antiga tradição egípcia, Toth era a mente e a palavra falada de RA, deus egípcio, criador do universo. A palavra constituía o poder com que RA objetivava suas idéias, através de Toth, considerado o deus protetor de todas as artes, ciências, e produções intelectuais. Foi ele o responsável por transmitir o alto conhecimento da civilização que morria para a nova que nascia. Toth era poderoso em conhecimento e em discurso divino. Foi o inventor da linguagem escrita (hieroglifos) e falada. Como o Senhor dos Livros, era o escriba dos deuses e patrono de todos os escribas. Ele representa, portanto, a Sabedoria como a mais alta função da nossa mente. É o guardião postado entre os reinos racional e o intuitivo, permitindo a expressão articulada da intuição, mostrando o caminho além das limitações do pensamento.
Por volta de 300 anos a.C., apareceu a primeira caneta feita com junco ou bambu, cuja ponta era talhada fina e embevecida em tinta retirada de plantas. Na Idade Média, surgiu a caneta feita por uma imensa pena de pássaro, onde o bico da pena era imerso em tinta. Os primeiros livros escritos na Europa foram de bico de pena. Assim, tanto a comunicação à distância quanto os documentos e livros históricos e literários tiveram seus registros, até a contemporaneidade, graças à comunicação escrita à pena.

OS RAMOS DE CAFÉ
O ramo de café acrescentado à insígnia dá o toque final da simbologia nacional. Presente no Brasão da República, o ramo de café simboliza a riqueza nacional que marcou a economia brasileira à época do Segundo Reinado e início da República.
Como podemos constatar, a insígnia foi cuidadosamente elaborada e concede à Fonoaudiologia um dos mais belos e significativos símbolos profissionais. Lamentamos o pouco valor dado à insígnia de nossa profissão e a seus autores, desconhecidos até a presente data. Por esse motivo, o CREFONO1 abraçou a iniciativa de resgatá-la e reconstruí-la.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Como funciona o implante coclear

O que é um implante de cóclea?

Um implante coclear é um dispositivo eletrônico que permite que muitas pessoas que sofreram perda auditiva ouçam melhor. E para muitos que nunca ouviram antes, ele permite a primeira experiência com a audição. É diferente e mais eficiente que um aparelho auditivo, que apenas amplifica a entrada do som tornando-o alto o suficiente para que seja processado pelo ouvido comprometido o ouça.
Usando uma tecnologia de ponta, o implante coclear ignora a parte danificada do ouvido e envia os sinais elétricos diretamente ao cérebro, por meio do nervo auditivo. Este tipo de implante é atualmente a única tecnologia médica capaz de restaurar funcionalmente um dos cinco sentidos, e é por isso que muitos médicos se referem a ele como “milagres tecnológicos”.

Como funciona um implante coclear?

O implante coclear possui dois componentes principais. O externo, que é chamado de processador do som e pode ser usado na parte externa da orelha ou no corpo. Ele captura o som com um microfone e o processa em informações digitais, que são transmitidas para um implante sob a sua pele.O componente interno é um implante com uma matriz de eletrodos. Ele converte as informações digitais do processador de som em sinais elétricos e os transmite para uma matriz de eletrodos. Essa matriz estimula o nervo auditivo, que então envia sinais para o cérebro, onde são interpretados como os sons.     




Audição com o implante coclear



  • O som é capturado por um microfone no processador de som.
  • O processador converte o som em informações digitais detalhadas.
  • A antena envia os sinais digitais ao implante.
  • A matriz de eletrodos no implante envia sinais elétricos para o nervo auditivo.
  • O nervo auditivo envia os impulsos ao cérebro, onde são interpretados como sons.


Primeira paciente a receber implante coclear bilateral simultâneo no Rio Grande do Sul




Fonte: Zero Hora - reportagem de Larissa Roso
Em uma sala de espera do Hospital Santa Clara, na Capital, a dona de casa Vera Lucia Ferreira de Lima, 40 anos, deliciava-se com uma dúvida: que palavras gostaria que a filha ouvisse aoabandonar a surdez total? Entre tantos apelidos afetuosos, “amor”, “amor de mãe”, “coração” ou “tuti”?  Primeira paciente a receber um implante coclear bilateral simultâneo no Rio Grande do Sul, Francielly, aos dois anos e meio, escutou a voz e o choro dos pais na quarta-feira pela manhã.
Um mês depois da cirurgia que permitiu a colocação dos dispositivos eletrônicos a partir de incisões atrás das orelhas, a família de Uruguaiana voltou a Porto Alegre para a ativação do implante. A fonoaudióloga Márcia Kimura, vinda de São Paulo especialmente para esse procedimento, programou os eletrodos para funcionar, observada por uma atenta equipe do Ambulatório de Otorrinolaringologia. Recepcionou Francielly com um coala de pelúcia usando dois aparelhos auditivos.
— Que lindo o seu “papapá” novo. Você viu o “papapá” do coala? Igual ao seu — comentou Márcia, batizando com uma alcunha mais simpática o processador de som.
Há crianças que choram ou se inquietam quando o implante coclear é acionado – para quem vive no silêncio completo, o contato inicial com os sons pode parecer assustador. Ao ouvir os ruídos de teste emitidos por um programa de computador, Francielly, que tem uma deficiência auditiva profunda diagnosticada nos primeiros meses, levou a mão imediatamente ao ouvido esquerdo. Logo cobriu o rosto com as duas mãos, a boca aberta em um biquinho, como se demonstrasse o espanto provocado pela novidade.
— Está ouvindo? — perguntou o pai, o militar aposentado Nilton Sertório Garcia Escobar, 59 anos, em lágrimas, segurando-a no colo.
Francielly apontava com o dedo o próprio ouvido
Márcia avisou que o microfone passaria a captar os sons do ambiente. Olhou para Vera, sinalizando que chegava o momento que a mãe aguardara em ansiosa expectativa.
— Oi, coração — saudou Vera, tirando fotos.
Francielly traduziu o estranhamento em tranquilidade. Apontava com o dedo o próprio ouvido, depois o ouvido do pai, fazia “sim” movimentando a cabeça, respirava fundo. Segundo a fonoaudióloga, mesmo se tornando agora capaz de escutar, ela ainda não consegue fazer a associação entre as palavras e os seus significados – terá que aprender, como qualquer criança, a dar nome aos objetos e às pessoas que a cercam.
— Hoje ela nasceu auditivamente — definiu Márcia.
A primeira suspeita de comprometimento da audição surgiu no segundo mês de vida. Vera preparava o almoço, e Francielly repousava no bebê-conforto, a pouca distância. Num descuido, a mãe deixou a tampa de uma panela de ferro cair no chão. Apesar do estrondo, a filha não esboçou qualquer reação. Seguiram-se outros episódios que aumentaram a desconfiança, como o dia em que a menina dormiu o tempo inteiro, imperturbável, durante uma festa de aniversário que teve queima de fogos de artifício.
Aos três meses, o teste da orelhinha, que deveria ter sido aplicado imediatamente após o parto, indicou alterações, e exames subsequentes comprovaram a surdez. Um dos ouvidos mantinha um resquício de audição, capaz de registrar apenas barulhos em volume altíssimo. Vera diz que a filha jamais atendeu a um chamado. Francielly chegou a usar um aparelho externo, mas, com um ano de idade, a perda já era total.
— A perspectiva de a minha filha viver em silêncio a vida inteira era terrível — conta Nilton, emocionado ao lembrar o dia em que ela, ao final do culto na igreja que frequentam, dirigiu-se até um piano e pressionou as teclas, produzindo um arremedo de canção que não conseguia captar.
Próximo passo, aulas na Turminha do Pernalonga
Durante o período de avaliações médicas e tentativas de obter a cobertura completa do plano de saúde para o implante – dos R$ 177 mil totais, Nilton terá de arcar com R$ 35 mil, parcelados em 10 anos –, a família adaptou a linguagem. O casal e os filhos dos relacionamentos anteriores de ambos desenvolveram códigos para integrar a caçula na rotina.
Há gestos para representar as atividades mais comuns: comer, beber suco, tomar banho. Francielly aperfeiçoou a gramática doméstica, indo além do be-a-bá dos sinais: mostra a palma da mão, pedindo que o interlocutor aguarde, e manda beijos ao executar alguma traquinagem que certamente receberá o olhar reprovador dos pais. Afeita ao convívio com os demais, interagindo sem constrangimento por meio de balbucios, Francielly sempre provoca a curiosidade dos adultos.
— Por que ela não fala? A minha filha fala de tudo — questionou uma mãe na pracinha, certa vez, iniciando um diálogo que se repete em outras ocasiões.
— Ela não escuta, mas ela vai escutar — respondeu Vera.
A dona de casa antecipa o próximo foco da curiosidade alheia: os acessórios que compõem a parte externa do implante coclear, visíveis sobre as orelhas e o couro cabeludo. Busca dicas de adaptação e até alguns truques em fóruns de discussão na internet, mas garante não se importar.
— Todo mundo fala e a sua filha não fala. Dói, né? Eu sei que a deficiência nunca vai deixar de existir, mas ela vai ter uma chance — comemorou a mãe.
Depois da regulagem, a família recebeu orientações sobre a manutenção do aparelho, que será retirado na hora do banho e de deitar. A próxima consulta deve ser realizada em até três meses.
— No início, orientava-se colocar o implante somente em um ouvido. Nos últimos cinco anos, os estudos mostram que as crianças têm um desenvolvimento muito melhor quando o implante é bilateral. Uma coisa é enxergar com um olho, outra é enxergar com os dois olhos — comparou Maurício Schreiner Miura, coordenador do Programa de Implante Coclear da Santa Casa. — Foi um sucesso. Ela vai ter uma vida normal — acrescentou o otorrinolaringologista que acompanha a paciente.
Antes de seguir para a rodoviária, onde o trio tomaria um ônibus para as nove horas de viagem até a Fronteira Oeste, Vera listou os planos mais imediatos para Francielly: o início das aulas na escola infantil Turminha do Pernalonga, na segunda-feira, brincadeiras no pátio com os cachorros Bidu e Lobo, sessões dos desenhos animados preferidos, com os personagens Pica-pau e Bob Esponja. Logo mais, um curso de balé, para o qual a malha rosa e a saia rodada já foram compradas – Francielly adora dançar.
— Agora ela vai ouvir música e o som dos passarinhos — disse a mãe.